Eu no futuro; Planos-pano que podem servir para limpar um nariz que, ao longo do dia, craquela por dentro. Mas usarei-os para nada.

 

            Eu farei russo, e falarei em hebraico.
            Eu falarei para todos que quiserem saber o que eu vou contar; vou contar tudo.
            Pintarei um quadro maior que esta sala, sem dormir; e quando dormir, dormirei dentro de um trailer na Cardeal.
            Nadarei crawl no lago do Ibirapuera; só não, no rio Tietê.
            Pedirei massagens, e venderei as minhas.
            Vou cortar um buraco no chão da sala 1104 e descer, de corda, bem na reserva técnica do Museu de Arte; estabelecerei um elo entre a vida e a morte.
            Apostarei uma corrida... tem de ser no deserto de sal da Bolívia: E quem ganhar, ganhou.
            Descobrirei qual é a nossa, mesmo sem ter descoberto qual é a minha.
            Morarei no Kibuts, depois em Praga. E quando voltar, farei um filho. 
            Jogarei muito gol-a-gol; mas estabelecerei partidas que vão a dez
                                                                                                                    (eu já terei apostado a corrida desgastante no deserto de sal da Bolívia).

            Eu terei ido ao Alaska antes de ter ido a Ushuaia.
            Eu não “terei saltado” de pára-quedas (não quereria passar esse medo de modo voluntário).
            Eu “terei passado” por um terremoto, isto eu já sei. Mas eu sempre terei medo de passar por um terremoto no décimo quarto andar.
            Apostarei minha vida sobre o fato de o padre ter sabido sobre o terremoto antes de todos nós.

            Ps: Talvez eu perca o meu medo de bexigas.